Maria Luiza (nome fictício) é professora de escolas estaduais do interior de São Paulo. Nessa pandemia, os alunos dela e das redes estaduais do Brasil estão aprendendo a partir de aulas disponibilizadas pelo Governo na televisão, no rádio e na internet. Além dessas aulas, a professora também está trabalhando com grupos no Whatsapp passando atividades, informações para os pais e conteúdos extras como áudios, indicações de livros e videoaulas curtas elaboradas por ela com materiais que possui em casa, como mapa e lousa. Maria acredita que isso não é aula, pois, para ela, “aula requer outras coisas que neste momento não são possíveis”. Ela acha que é um momento para os alunos pensarem em outras coisas e considera importantes as atividades para ocupar a mente. Além disso, os pais estão adorando essas atividades, se sentindo acolhidos e agradecidos pela professora.
A professora nos disse que gostaria de ir além. Os pais pedem vídeos-aulas, pois alegam que os alunos não estão gostando das aulas do governo e que aprendem mais com as aulas dela. Maria realizou algumas aulas por videochamada, mas somente metade dos alunos conseguiu participar. Ela sente falta do contato com os alunos pessoalmente, que considera fundamental para a prática docente. Outro problema que ela enfrenta é com relação à qualidade de sua internet, que é fraca e dificulta muitas das atividades.
Maria foi além de suas atividades como professora. Uma mãe que não conseguiu receber o auxílio do governo que substitui a merenda escolar recebeu sua ajuda: a professora se mobilizou com colegas e pagou o valor a ela. Maria nos disse que isso não faz parte do papel dela como professora, mas faz parte do papel dela como cidadã. Como seu aluno vai se concentrar minimamente nas aulas do governo e aprender se não tiver o que comer?
O relato de Maria Luiza mostrou muitas dificuldades que professoras, alunas, mães e pais têm vivenciado agora, que demonstram que a prática educativa, sobretudo em tempos difíceis, vai além das definições estritas do cargo “professora”, fazendo parte de um conjunto mais amplo de práticas de sensibilidade e cidadania.
Diário de Classe da Pandemia - Dia 2